De acordo com dados do Ministério da Saúde, uma em cada dez mulheres no Brasil sofre com a endometriose. Apesar de ser uma doença benigna, pode trazer comprometimento da qualidade de vida da paciente, incluindo infertilidade e, ocasionalmente, tumores malignos. 

O que é?

A endometriose é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela presença de tecido funcional endometrial e do miométrio – camadas interna e intermediária do útero – fora da cavidade uterina. 

Segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a prevalência da endometriose na população feminina em idade reprodutiva é de 6% a 10%. Deste número, 50% são adolescentes e adultas com dores pélvicas intensas, e até 50% dos casos de infertilidade podem estar associados. 

A literatura aponta que, em 20% das mulheres, a endometriose pode apresentar-se de maneira silenciosa. Por outro lado, quando sintomática, é caracterizada por dor pélvica intensa, que piora no período menstrual, dores durante o ato sexual e ao evacuar ou urinar. 

As dores ocasionadas pela afecção podem comprometer a qualidade de vida da paciente, resultando em limitações para realizar atividades diárias simples e, até mesmo, impactar em relacionamento interpessoais. Alguns estudos apontam, ainda, a prevalência de ansiedade e depressão em mulheres portadoras da endometriose, com quadros que variam de moderado a grave. 

Um desafio: o diagnóstico

As causas da endometriose ainda são um enigma no meio médico. Nos últimos 30 anos, os estudos voltados para essa condição têm buscado entender os diferentes mecanismos etiopatogênicos e fisiopatológicos, bem como uma maneira eficiente e rápida no diagnóstico. 

Em linhas gerais, acredita-se que o processo inflamatório da endometriose envolve uma síndrome complexa relacionada ao ciclo do estrogênio, que altera o comportamento do tecido endometrial com suas células anormais, levando ao fluxo tubário retrógrado para cavidade abdominal inferior.

Somado a isso, as diferentes apresentações sintomáticas da endometriose dificultam sua identificação. Como citado acima, as principais manifestações são a dor pélvica intensa, dor durante a relação sexual, dor para urinar ou evacuar, mas elas podem variar conforme o local afetado e organismo da paciente. 

O diagnóstico tem sido realizado através da avaliação dos sintomas da paciente e seu histórico clínico e familiar, somado a ultrassom transvaginal, ressonância magnética da pelve e do biomarcador CA-125. No entanto, esses procedimentos apresentam limitações, como a identificação de lesões no abdome superior ou de sinais indiretos de acometimento pélvico, como as aderências. 

Outros procedimentos, mais invasivos, para diagnóstico são a histeroscopia diagnóstica e a videolaparoscopia, que podem diagnosticar e tratar de forma simultânea, no que chamamos de “see and treat”, mas implicam alto custo financeiro associado e ao sistema de saúde, riscos inerentes do próprio procedimento e exposição desnecessária de pacientes que poderão ter resultados negativos para a doença. 

Tratamento 

O tratamento da endometriose deve ser individualizado, levando em consideração os sintomas da paciente e o comprometimento de sua qualidade de vida. 

Podemos lançar mão de terapias que envolvem hormônios, como os anticoncepcionais orais combinados, progestagênios, androgênios e agonistas do GnRH (GNRHa). No entanto, é importante destacar que eles visam diminuir os sintomas relacionados, e não a cura definitiva. 

Sempre que possível, é importante associar o tratamento com uma equipe multidisciplinar especializada, tratando as diversas frentes que possam ser acometidas pela doença na vida da paciente, principalmente orientações sobre hábitos de vida saudáveis. 

Nos casos mais graves de endometriose, presença de focos no canal urinário ou intestinal, infertilidade ou dor refratária ao tratamento clínico, a cirurgia de retirada dos focos pode ser indicada. O padrão-ouro de tratamento é através da videolaparoscopia, uma vez que permite a melhor visualização das estruturas pélvicas e das lesões. Essas lesões são retiradas por pinças delicadas a partir de pequenas incisões no abdômen. Já nos casos em que a mulher não deseja ter filhos, a histerectomia total pode ser indicada. 

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